O Sul Global na liderança da agenda climática, frente a um cenário de incertezas

Por Ana Domingues, CEO da FleishmanHillard Brasil

Não há dúvidas de que 2025 será um ano desafiador para a agenda climática. A decisão de Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris e extinguir o Green New Deal gera preocupações sobre o crescimento do negacionismo climático, sinalizando um momento crítico para os avanços na transição energética.

No entanto, as políticas americanas não determinam necessariamente o caminho a ser seguido por todas as nações ou empresas. Os desafios ambientais e climáticos continuarão sendo críticos. A transição para as energias renováveis seguirá em frente, refletindo a demanda dos consumidores e as oportunidades econômicas. Além disso, as organizações multinacionais terão que atender às expectativas de stakeholders em todo o mundo, incluindo países que continuam a buscar metas climáticas ambiciosas. Portanto, as estratégias precisam ser avaliadas, ajustadas e, se necessário, redirecionadas para regiões que priorizam o desenvolvimento sustentável.

Diante desse contexto de desafios geopolíticos, polarização e fragmentação de poder — com tensões entre Estados Unidos, União Europeia e China —, este deve ser um ano de liderança para o Sul Global, com o Brasil assumindo um papel proeminente na agenda ambiental. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, defende que o país lidere as discussões globais sobre proteção ambiental, adotando uma postura conciliadora entre as nações do Sul e do Norte.

O Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), cujo tema deste ano é “Colaboração para a Era Inteligente”, abordou a “salvaguarda do planeta”, alinhando-se a essa ambição. Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energia do Brasil, participou do evento buscando atrair investimentos anteriormente direcionados aos EUA, destacando o portfólio energético do país — que inclui biocombustíveis, hidrelétricas, minerais críticos e petróleo — e seu vasto potencial em soluções sustentáveis, bioeconomia e conservação ambiental.

A influência do Brasil nessa agenda já foi notada em 2024, quando o país colocou o desenvolvimento sustentável e a transição energética como eixos centrais durante sua presidência no G20. Para este ano, ao presidir o BRICS — grupo que reúne algumas das principais economias emergentes — o país latino-americano incluiu entre os temas prioritários o “aprimoramento das estruturas de financiamento para enfrentar mudanças climáticas”.

Com uma matriz energética composta por mais de 90% de fontes renováveis – hídrica, solar, biomassa, eólica, nuclear –, o Brasil já é referência mundial em energia limpa. Nos últimos dois anos, implementou uma vigorosa política de sustentabilidade no setor de energias, que o posicionou em primeiro lugar entre as nações emergentes no Índice de Transição Energética (ETI), em 2024. 

Recentemente, o país aprovou uma lei que estabelece um marco regulatório para instalações eólicas offshore, expandindo seu já vasto potencial onshore. Com a exigência de que datacenters globais utilizem apenas energia limpa e renovável frente ao crescimento da inteligência artificial, o Brasil — que possui a sétima maior reserva de urânio do mundo — deve investir fortemente em energia nuclear nos próximos anos, apostando na tecnologia dos pequenos reatores nucleares. Além disso, lidera a produção de biocombustíveis como etanol e biodiesel, exemplificando como unir inovação, sustentabilidade e desenvolvimento econômico para se tornar uma potência energética.

Graças à segurança jurídica, à posição geopolítica favorável e à capacidade de dialogar com o mundo, as empresas acreditam que o Brasil é um ambiente fértil para investimentos internacionais.

Entretanto, a economia brasileira ainda é pouco industrializada e fortemente dependente da exploração de combustíveis fósseis. O governo defende o direito de continuar explorando recursos hidrocarbonetos durante a transição energética, argumentando que esses compostos podem gerar energia limpa devido aos recursos hídricos disponíveis no petróleo.

O país enfrenta outros desafios significativos, como a necessidade urgente de reduzir o desmatamento ilegal. Para isso, tem investido no fortalecimento da bioeconomia amazônica e na criação de cadeias produtivas sustentáveis que combinam preservação ambiental com geração de valor econômico e valorização dos conhecimentos tradicionais em comunidades indígenas e locais. Iniciativas como o Fundo Amazônia têm se consolidado como exemplos bem-sucedidos na captação de recursos internacionais para preservação ambiental.

A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém, deverá consolidar ainda mais o protagonismo do Brasil e do Sul Global na agenda climática. Como anfitrião da conferência, o país sinalizou que priorizará a busca por aumento da ajuda financeira das nações desenvolvidas para apoiar a transição energética das economias em desenvolvimento. O debate também incluirá a “questão da adaptação”, que ganhou destaque após as enchentes que afetaram o estado do Rio Grande do Sul no ano passado.

O desafio será grande, mas a determinação do Brasil em promover um desenvolvimento sustentável pode não apenas inspirar outras nações do Sul Global, mas também estabelecer um novo padrão de cooperação internacional, reafirmando a importância do diálogo e da ação coletiva em um mundo que clama por mudanças significativas.