O maior festival de economia criativa do mundo, que, em quase trinta anos de existência, celebra a junção de tecnologia e a criatividade, alerta para a desconexão entre as pessoas.
Essa foi a provocação lançada pelo SXSW 2019, que aconteceu em Austin, no Texas, promovendo encontros entre mentes brilhantes e o que há de mais atual em inovação, em escala global.
O que o SXSW 2019 registrou, na verdade, é um movimento pendular. Se, por um lado, a tecnologia abarca cada vez mais toda a esfera de experiência do ser humano – caso da biotecnologia e das diversas formas de inteligência artificial -, por outro lado, o humano se retrai: temeroso com o avanço tecnológico, preocupa-se com sua privacidade, com o uso de seus dados, refém de um certo desconforto psíquico em um mundo de dados e automação.
A concorrida palestra de Amy Webb, do The Future Institute, por exemplo, trouxe as esperadas Tech Trends para 2019 – 365 no total, 72 tendências de tecnologia a mais do que no ano passado.
Mas, este ano, Amy dividiu as atenções com a psicoterapeuta de origem belga Esther Perel, que mostrou que a grande revolução nos ambientes corporativos talvez não esteja nos avanços da inteligência artificial ou nas artimanhas do blockchain: está em desenvolver soft skills de relacionamento.
Nas suas palavras: “Estamos vivendo conflitos em casa e nas relações de trabalho porque estamos aumentando a carga de expectativas no outro. Confiança é o fundamento para mudarmos o tipo das relações. No momento em que a tecnologia e a inteligência artificial avançam, a tecnologia afasta as pessoas. E os problemas de relacionamentos aumentam”.
Quantos de nós ousaríamos discordar de Esther? Poucos, não há dúvida. Não tanto pelas suas credenciais – com best-sellers traduzidos em 25 idiomas, Esther é uma das principais vozes globais quando o assunto são relacionamentos pessoais -, mas pela pertinência e o alcance do seu alerta.
Em um momento em que pessoas, marcas e corporações buscam ampliar a qualidade – e a autenticidade – dos relacionamentos, são as relações afetivas, como coloca Esther, mais do que nunca, os moldes para as relações sociais e de trabalho.
No campo da afetividade, não há como não tratar das vulnerabilidades – outro hot topic do festival, acredite, lado a lado com machine learning e as múltiplas formas de realidade virtual.
E ninguém melhor para falar sobre isso do que Brené Brown, cuja palestra O Poder da Vulnerabilidade é uma das cinco mais vistas no Ted Talks em todos os tempos. No SXSW, Brené provocou comoção ao fazer um clamor para que nos conectemos com pessoas, e não com máquinas; para que saibamos lidar, para além do mundo de aparências do Instagram, com as dores e as frustrações – nossas e de quem está ao nosso lado. E da coragem que isso requer.
Trata-se aqui, antes de mais nada, de ir além da empatia (um tema que dominou o SXSW 2018) e ser capaz de perceber a emoção do interlocutor.
“Não evite pessoas com problemas e não deixe de falar sobre os problemas delas”, disse Brené. “Tenha resiliência: não se importar com o que aconteça – seja apenas você mesma. É a única coisa que vai fazer você realmente feliz, e para estabelecer e pertencer a um relacionamento. E é preciso ter coragem de dizer a sua história, com o coração inteiro”.
Evidentemente, o avanço das máquinas inteligentes, as novas proposições do storytelling, as maneiras de reconquistar a confiança do consumidor e outros temas urgentes para empresas, governos e organizações estiveram presentes nos debates e iluminaram caminhos em Austin.
As questões éticas e regulatórias do big data, especialmente, se sobressaíram: em parte derivado das ansiedades provocadas nos públicos pela aceleração da tecnologia e proliferação de gadgets cada vez mais invasivos, tivemos um dos festivais mais políticos dos últimos anos. A legislação precisa acelerar também – essa uma das mensagens-chave.
São tópicos que compuseram um cardápio fundamental para os profissionais envolvidos em comunicação corporativa e institucional, e cada vez mais o festival se coloca como parada obrigatória para o setor.
Porém, é fundamental entender que a grande disrupção que se coloca, notadamente para uma indústria que promove a conexão entre pessoas, não está à frente, na maneira de lidarmos com um ambiente dominado pela tecnologia.
A inovação fundamental proposta pelo festival para 2019 está na necessidade de desenvolver maneiras de conviver aqui e agora com quem tem cara, feições e emoções próprias, e está ao nosso lado, em casa, nos espaços de convivência ou no ambiente de trabalho.
O SXSW 2019 acabou mas a Missão Inovação não. A FleishmanHillard vai encerrar a iniciativa, que levou vários diretores ao maior festival de Inovação do mundo, com um “download” dos aprendizados e o olhar do PR sobre as principais tendências, reflexões e provocações que vimos por lá.
Save The Date: dia, 30 de abril, às 8h30m, no Auditório do Spazio JK, localizado na Av. Juscelino Kubitschek 1.726, Itaim Bibi. Em breve vamos enviar um convite com mais informações.
Patrícia Marins, General Manager.